Roberto Saturnino Braga
Perplexidade total, a Câmara tem um presidente que não pode presidir as sessões, tem que ficar trancado no gabinete; o presidente deposto, que presidiu todo o processo do impeachment, deve ser cassado por notória corrupção mas não pode sê-lo, sob risco de derrubar o governo; uma delação prometida da maior empreiteira do País pode derrubar a República; e os principais líderes do partido do governo tiveram prisão pedida pelo Procurador geral e não dá para antever nada em relação à decisão do STF; se aceitar o pedido, dizem que cai o Congresso.
Enquanto isso, o governo golpista se arruína rapidamente, denúncia após denúncia, vai recuando em decisões insustentáveis, vai ter que restabelecer o Ministério da Ciência e Tecnologia, absurdamente extinto como o da cultura, não vai se sustentar só com o noticiário positivo forjado pelo Globo e pela Veja, os dois órgãos da CIA. Vamos desembocar em eleições, inevitavelmente.
Eleições, sim, absolutamente imprescindíveis para o restabelecimento da legitimidade e conseqüente estabilidade do Governo Brasileiro depois do golpe. Eu acredito nelas; tenho que acreditar para poder respirar. O golpe pode ser anulado, ante as evidências crescentes de que uma das razões para tirar Dilma Rousseff era esvaziar a operação lava-jato que ela deixava correr solta. Se isso ocorrer e ela retornar ao seu posto, com o caráter que tem, com o amor ao País, Dilma provavelmente reconhecerá que, depois deste desmoronamento institucional, só um pronunciamento popular, precedido de campanha eleitoral de amplo esclarecimento, poderá restabelecer a capacidade de governar de um novo presidente.
Não sei como nem quando se fará esta nova eleição, mas acredito nisto porque acredito no Brasil e no seu povo, na exigência que fará para a adoção deste que é o único caminho do nosso País para reencontrar o seu destino e chegar ao seu segundo centenário, em 2022, com um projeto de nação autônoma, não mais dependente nem dominada.
Posta esta condição como necessária, quero pessoalmente sustentar, como político que tem biografia longa e compromissos fortes, que tem pensamento político sedimentado pelos anos de observação e de luta, como político engajado na posição desenvolvimentista em confronto com a dos mercadistas, quero sustentar que a eleição é necessária, mas não é suficiente. É preciso mais; é preciso clareza na definição dos partidos e dos candidatos, de um lado e de outro; e, para nós, é preciso a unidade dos desenvolvimentistas!
Partidos podem ter, cada um, sua chapa de candidatos proporcionais mas, para os majoritários, para a Presidência da República e também para nas Prefeituras, é fundamental, é imprescindível, é absolutamente necessária a unidade dos desenvolvimentistas: contra os mercadistas, contra os interesses do grande capital, contra os golpistas!
Ressalto a eleição de prefeitos porque ela é a próxima, ela deve anteceder a de presidente e é decisiva para derrotar os golpistas. Candidaturas de ensaio e prospecção são válidas, mas a segunda metade de julho é o momento das convenções: e nas convenções já deve emergir o candidato de unidade. Esperar o segundo turno é um risco que não podemos correr; não temos o direito de correr, em nome do que achamos essencial para o nosso País: a democracia, o estado de direito, a justiça social e o desenvolvimento. A unidade das forças desenvolvimentistas é um dever nosso, pelo menos nas capitais; temos que cuidar deste dever.