Julio Gomes de Almeida* | Publicado originalmente no Brasil Econômico
O início de 2015 marca o aprofundamento da deterioração econômica brasileira em áreas que já vinham denotando forte retração, mas se caracteriza também porque os últimos baluartes de um favorável desempenho vão caindo um a um. Na semana passada, a pesquisa de comércio varejista apurou que o crescimento do setor manteve-se positivo em 2,2% em 2014 no conceito “comércio restrito”. Foi um dos poucos macrossetores da economia que lograram uma evolução, ainda que modesta. Porém, o mesmo levantamento ressaltou que, no último trimestre, o setor já acusava diminuição em quase todos os seus segmentos, uma indicação de que índices negativos poderão prevalecer nos primeiros meses do corrente ano.
Agora é o emprego. A pesquisa ontem divulgada pelo IBGE para as grandes regiões metropolitanas do país não dá margem para dúvidas. A taxa de desemprego, que vinha se mostrando cadente, aumentou de modo expressivo em janeiro último com relação ao mesmo mês do ano passado, saltando de 4,8% para 5,3% da força de trabalho. Em São Paulo, o centro econômico do país, o quadro foi pior. A desocupação aumentou para 5,7%, partindo de uma taxa de 5% um ano atrás.
Demorou um período prolongado para que os dados do emprego refletissem o mau momento da economia, mas o fantasma do desemprego chegou. Em comparação com dezembro de 2014, o número de pessoas desocupadas aumentou 10% e o número de ocupados diminuiu 0,5%, sobretudo na indústria, na construção e na área de educação e saúde. Cresceu apenas em serviços domésticos e em outros serviços, onde o subemprego tem maior preponderância. O trabalho em atividades formais também sofreu queda, assim como os ocupados sem carteira assinada, tendo aumentado somente na categoria por conta própria, ou seja, em ocupações que abrigam o trabalho mais precário e de menor remuneração.
Vale dizer, não só do ponto de vista quantitativo o emprego sofre um revés significativo e generalizado, como também há evidente perda de qualidade na ocupação. O rendimento real médio das pessoas ocupadas ainda acusa evolução, sobretudo na construção, em atividade educacionais e de saúde e na indústria, mas este que é o único dado positivo da pesquisa de emprego pode estar, no entanto, com seus dias contados se a desocupação prosseguir sua marcha, como parece ser o caso.
Em seu conjunto, esses resultados implicam em crescimento muito baixo, ou mesmo em queda, da massa real de rendimentos, que é a base do consumo corrente da população. Em janeiro, a massa de rendimentos aumentou na comparação anual apenas 0,9%. Nos bons tempos do emprego e da renda no país, o aumento chegava a 6%. Não há como evitar, caso o mais recente índice prevaleça, a estagnação ou queda do varejo de bens não-duráveis, observando-se que o outro destacado componente do consumo no caso de bens duráveis, qual seja, o crédito, também está estagnado. A propósito, em São Paulo, o quadro nesse ponto foi também mais grave devido, sobretudo, a uma grande diminuição do efetivo industrial (-12%). Na Região Metropolitana de São Paulo, o recuou da massa de rendimentos chegou a 1,5%. O comércio varejista local seguramente refletirá esse revés.
Quanto ao setor que já de longa data sofre retrocesso, no caso o setor industrial, pesquisa da Confederação Nacional da Indústria indica que em janeiro desse ano houve queda significativa da produção e do emprego, envolvendo todos os segmentos empresariais, mas, especialmente, as pequenas empresas, que são as que mais demandam trabalhadores. Com efeitos muito nocivos sobre o investimento, a utilização da capacidade industrial chegou a 67% em janeiro último, contra 70% em janeiro do ano passado. Daí a redução de 10% das intenções de investir na mesma comparação. As expectativas do empresário industrial também sofreram grande queda. São indicadores de que agravou-se o quadro conjuntural da indústria.
* – Julio Gomes de Almeida é Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e Professor do Instituto de Economia da Unicamp.