Vanessa Maria de Castro* e Magda de Lima Lucio**
Esta semana é importante para o Brasil. Talvez a mais importante para a Democracia Brasileira nas últimas décadas.
As sucessivas tentativas fracassadas de se golpear o Brasil fizeram com que houvesse um levante popular em defesa do Brasil, contra um golpe.
Este golpe foi sendo construído desde o resultado das eleições presidenciais em 2014, na calada da noite.
Os perdedores do processo eleitoral de 2014 não aceitaram o resultado do sufrágio e vem tentando, de diversas maneiras, impedir que a ganhadora governe o País.
O levante popular em defesa da democracia no Brasil tomou conta dos debates públicos no país e também fora dele, após a prisão coercitiva do ex-presidente Lula da Silva, em 04 de março deste ano.
Os brasileiros ficaram atônitos com os fatos ocorridos e despertaram um alarme em seus corações e almas que algo muito sério estava acontecendo no País. A partir deste dia, a política brasileira tomou parte da vida das pessoas.
O que se viu depois deste dia foi a união do povo em defesa do Brasil.
Até o momento este é o fato que mais chama a atenção. O movimento popular aconteceu de forma espontânea de mulheres e homens preocupados com o presente e o futuro da Nação.
É como se brasileiras e brasileiros tivessem despertados de um sono muito profundo no qual não tinham controle sobre sua existência. O medo de perder sua liberdade foi o fio que conduziu o Povo para a rua. O perigo eminente de um golpe uniu diferentes casas no Brasil.
A Nação amadureceu.
Independente de quem votaram na ultima eleição multidões de cidadãs e cidadãos estão indo às ruas com a bandeira da democracia em riste. Trata-se de defender a democracia no Brasil, que está em perigo.
Este movimento se fortalece a cada dia. Já é possível dizer que hoje tem uma onda nacional e internacional em favor da democracia, contra o golpe em solo brasileiro.
No dia 31 de março foi possível verificar o tamanho do movimento em defesa da democracia brasileira.
Comitês e manifestos em defesa da democracia e da legalidade democrática são criados diuturnamente em ambientes de trabalho, em bairros, em agremiações esportivas, em espaços religiosos, em universidades, escolas, em bairros, em favelas, enfim nos mais diversos lugares e regiões da Nação.
E nestes comitês se percebe a força do Povo Brasileiro a defender e a bradar que a experiência dos últimos 14 anos não permite mais retrocessos, tampouco arroubos. É preciso construir e fortalecer a recente democracia com tranquilidade.
O povo brasileiro sabe distinguir os Três Poderes e percebe claramente o desequilíbrio instalado entre os Poderes instituídos. A invasão e o sombreamento das competências de órgãos e de autoridades que deveriam zelar e proteger a jovem democracia são claramente perceptíveis. Pelo contrário, essas autoridades, tem se arvorado em governar para seus próprios interesses e neste arroubo não foram guardiões do legado da democracia e da soberania nacional.
Diante deste show de desvarios o Povo Brasileiro saiu às ruas para ser protagonista de sua história, de suas lutas e afirmar que a democracia é um bem nacional que dela não abre mão, por isso luta contra o golpe.
Deste processo, desequilibrado, não sobrou quase nada. Não existem mais heróis. E tão pouco parece que o Povo Brasileiro quer ter heróis, eles querem a radicalização da democracia no País. Não existem autoridades virtuosas em quem se espelhar.
Não se trata de defender um governo, mas sim, de defender a democracia promulgada na Carta Magna.
A ruptura deste acordo está levando milhões de pessoas a sair de suas vidas individuais para defender abertamente o estado de direito no Brasil.
Este será o grande legado desse processo em curso.
O povo brasileiro acordou de seu processo de escravidão, de humilhação e de subjugação.
E ao contrário do que diz a letra do Hino Nacional – não está mais deitado em berço esplêndido. Até porque para os pobres nunca houve berço, tampouco esplendido.
O Povo brasileiro não aceita, não reconhece mais aqueles que sempre se arvoram em serem os “donos do Brasil”.
Pela primeira vez, o Brasil está sendo de todas e todos, brasileiras e brasileiros. O que queremos dizer com isso, é que desta vez o povo foi para a rua defender a democracia neste país de uma forma espontânea.
A cidadania ativa foi despertada. Aquela na qual o cidadão sabe o que é melhor para ele e para os seus e luta para que os processos democráticos sejam respeitados.
Aqueles que arquitetaram a quebra dos ritos democráticos estão perplexos. Não reconhecem mais o país e esbravejam ao descobrir que suas vontades e veleidades não mais serão aceitas.
Ainda é muito recente, mas já podemos aferir que há uma mudança substancial na conduta das pessoas.
Enquanto capas de revistas das décadas de 1980 e 1990 exibiam crianças se alimentando de calangos, hoje os brasileiros das classes menos privilegiadas não mais se reconhecem neste enquadramento.
O Brasil sempre foi dividido – ricos de um lado, pobres de outro. Os segundos satisfazendo os primeiros.
A divisão desenhada e anunciada pelos meios de comunicação convencionais enuncia um Brasil dividido pelo ódio, com o intuito de reafirmar o projeto de nação colonizada, nação sem soberania. Dividem com o intuito de voltar a reinar soberanos. Utilizam o espaço de uma concessão pública para construir um muro separatista irreal.
Mas o Povo Brasileiro compreendeu uma sutileza: o golpe significa retornar à década de 1990 em que boa parte do patrimônio nacional, portanto, coletivo, foi doado a grupos internacionais sem trazer nenhuma vantagem para o desenvolvimento nacional. Mais uma vez naquela década os governantes se comportaram como capatazes da metrópole.
Este despertar coloca as brasileiras e brasileiros em alerta permanente, por isto o aquecimento do debate político no país.
A política entrou em todos os espaços, entrou na vida das brasileiras e brasileiros, nos últimos meses. A seu modo, em todos os rincões deste país se fala em política, e como bons comentaristas, cada um tem uma opinião sobre o que deve acontecer no Brasil.
Mas uma coisa tem se conformado como uma unanimidade – a defesa do estado de direito permeia o coração de brasileiras e brasileiros.
Não há mais a possibilidade de se dar um golpe de estado, como em outros momentos da história nacional. Chega. A democracia é um bem coletivo que apenas alguns desafortunados esbravejam contra ela na calada da noite.
O mundo não apoia o golpe no Brasil, e isso deixou os golpistas em uma situação constrangedora. Precisam inventar, tecer, remediar, criar outras estratégias, precisam legalizar, precisam dar um verniz ao golpe.
A dificuldade em se concluir toda esta infame tarefa tem deixado antigos colaboradores da ditadura e atuais colaboradores do capital financeiro internacional sem sono.
Enquanto o Brasil do passado era dividido entre pobres, muitos pobres e miseráveis. E o analfabetismo em 1964 girava em torno de 40%, a esperança de vida estava em torno de 54 anos, hoje tendo como suporte os programas sociais, temos a redução da pobreza e o aumento da longevidade das brasileiras e brasileiros.
O Brasil mudou. O ingresso no sistema de educação formal e o fim da miséria deu a um contingente populacional as condições mínimas para se inserir no debate sobre o futuro da Nação.
As cidades pequenas e médias receberam recursos para o equipamento e construção de hospitais, escolas, centros de referência e assistência social. Foram minimamente equipadas, principalmente após 2002.
A presença de equipamentos públicos de uso coletivo ativou aspectos de cidadania em uma gama imensa de municípios brasileiros.
O país do caos decantado em horário nobre em noticiários de alcance nacional e internacional não surtiram efeito, pois foram confrontados com a materialidade modificada das cidades brasileiras na casa das pessoas. O caos não lhes diz respeito. Desconfiam da legitimidade daqueles que emprestaram seus rostos e suas vozes para transmitir ao vivo o golpe militar de 1964.
As redes sociais, as novas mídias trouxeram outros pontos de vista. Outras formas de se analisar a mesma situação apresentada como caos pela mídia convencional.
As famílias brasileiras podem hoje participar de espaços públicos criados e mantidos por jovens dispostos a transformar o país. E assim, estamos participando de uma verdadeira revolução no Brasil.
Os meios de comunicação são desmentidos sistematicamente. E agora passam a arcar juridicamente pelas inverdades que propagam com pompa e circunstância como se fosse fato.
Os mandatários estão perplexos.
Não se pode chamá-los de elite, pois lhes falta atributos básicos para ostentar tal título. Preferimos definir esses senhores como indivíduos que ainda se servem das prerrogativas da lógica colonizadora. Utilizam a Nação para ampliar seu patrimônio. Enriquecem se apropriando de algo que não lhes pertence. Usurpadores da Nação. E ao mesmo tempo são completamente subservientes e escravos da elite internacional.
Por isso tem as mentes colonizadas e sentem-se inferiores, pois não gostam do Brasil e pouco dão valor ao Povo Brasileiro. Esses senhores querem o povo como escravos e trabalhadores sem direitos para ampliar seu patrimônio, como sempre foi feito.
Não usam mais de subterfúgios para esconderem o que desejam fazer com a nação, por isso tem um pato de origem controversa como idolatria.
A luta no Brasil é por dinheiro e este dinheiro que sempre foi destes senhores, hoje está sendo compartilhado, ainda de forma muito incipiente, com a população brasileira. Mas este pouco já deu dignidade ao povo brasileiro para saber discernir e fazer escolhas. Escolheram a democracia e a liberdade de suas mentes e almas.
Por isso fazem a segunda abolição. Não querem mais ser escravos de senhores e sinhazinhas da casa grande.
Após 14 anos de políticas públicas de inclusão social os menos favorecidos econômica e socialmente tem a oportunidade de realizar três refeições diárias, usufruir de uma vaga em uma escola pública, terem acesso a uma política de moradia, a uma vaga em universidades federais, neste caso trata-se da primeira geração de inúmeras famílias com condições reais de se graduarem. Pode-se dizer que é por esta materialidade que o povo saiu às ruas para defender, não um governo, mas um projeto de Nação.
O Brasil mudou.
O seu Povo mudou.
A mudança vem acontecendo de forma paulatina e constante.
A universalização de políticas de inclusão social conseguiram em 14 anos construir um novo perfil para a sociedade brasileira.
Ainda embrionária é verdade, mas capaz de eriçar os cabelos dos capatazes de sempre da Nação.
A Nação brasileira não conhecia direitos, conhecia deveres e recebia favores dos ricos, jamais na forma de política pública. Jamais reconhecidos como cidadãos e cidadãs.
Este é um momento de virada, não pela defesa de uma mandato presidencial, mas porque se vislumbra a intolerância com os abusos impetrados pelos ricos durante séculos nestas terras.
As brasileiras exigem seus direitos de mulheres, mães, trabalhadoras.
As brasileiras e brasileiros exigem seus direitos humanos, seus direitos trabalhistas, seus direitos de cidadania plena. Não permitem mais o assédio desvairado de senhores que achavam que eram donos de seus corpos, de suas mentes e suas almas. Os pretensos donos do brasil estavam habituados a mandar nas mulheres e nos homens brasileiros, nas suas vidas, nos seus corpos, em suas almas. E estranham hoje que as mesmas mulheres e homens não mais obedecem seus caprichos, suas ordens.
Eram habituados a influenciar as crenças e religiões e em que Deus deveriam crer e cultuar. Demonizavam tudo que era do povo brasileiro. Tiravam chacota e humilhavam os pobres deste país. Belo somente o que vinha da Europa, e agora de Miami para os novos jovens que se arvoram a donos do poder.
E assim se deu a construção da democracia do Brasil, mediante a dominação. Isso não é democracia isso é escravidão política, colonização de mentes, corpos e almas.
Mesmo no ambiente democrático os que se intitulam donos do Brasil não deixaram de manter seus currais eleitorais. Espaços de dominação, destituídos de alteridade. Impossíveis de serem sementes para a mudança e a transformação social que o Povo Brasileiro há anos acalenta.
O voto era uma camuflagem da democracia. Se o candidato da preferencia dos mandatários perdesse a eleição, ela seria tranquilamente anulada.
Nas ruas, hoje o Povo Brasileiro afirma – não aceitamos mais a usurpação da democracia.
Instala-se um novo momento. A efetivação dos mecanismos democráticos, sejam afeitos à democracia representativa ou direta. O fato é que se quer, se demanda, se exige o aprofundamento, o amadurecimento da democracia brasileira.
A democracia no Brasil agora é pra valer. Não será mais uma paisagem. Ela será real. Efetivada na prática.
Essa é uma realidade nova para os senhores de engenho, as sinhazinhas, os coronéis nunca viram tanta gente desobediente andando juntas pelas ruas, estradas e cidades.
Mas o que eles perceberam foi que ao negar o resultado das últimas eleições eles mesmos destruíram o equilíbrio entre os poderes instituídos. Destruíram as autoridades instituídas.
Eles nunca tiveram que lidar com democracia pra valer. Estão atordoados.
E em um calmo, pacífico e sonoro cântico o Povo Brasileiro diz:
O Brasil não tem dono.
O Brasil não tem dono.
O Brasil não tem dono.
Esta nação é de todas e todos.
Instala-se pela mão do Povo Brasileiro uma Nação estruturada pelos direitos individuais e coletivos. Não será permitido o roubo ou a usurpação destes direitos.
A era da escravidão, da humilhação, da subjugação acabou.
Está se construindo a Segunda Abolição em terras brasileiras.
Nada mudará este fato. Independente do resultado da próxima semana.
O Brasil Mudou.
O Brasil pertence ao Povo Brasileiro.
A vida do Povo Brasileiro pertence ao Povo Brasileiro.
As ruas e praças pertencem ao Povo Brasileiro e lá construirão a Nação do Futuro. Igualitária e Respeitosa.