Produtividade: ainda sem rumo

Julio Gomes de Almeida* | Brasil Econômico

Em 2014 a indústria continuou aumentando sua produtividade, mas ainda de forma muito insuficiente e com características nada positivas. Os dados a respeito do tema são os seguintes: a produção industrial teve redução de 1,2% no primeiro quadrimestre deste ano, frente ao mesmo período de 2013, enquanto o número de pessoas ocupadas no setor industrial teve retração maior, de 2,0%. O total de horas pagas na produção declinou ainda mais, 2,5%. Esses números mostram que a indústria está em crise, mas como a produtividade é medida pela relação entre a produção e o número de horas pagas, esta aumentou 1,3%.

A indústria e o Brasil precisam de mais e, sobretudo, precisam que os ganhos de produtividade sejam obtidos com aumentos simultâneos de produção e de emprego. Só assim o país poderá criar postos de trabalho de maior remuneração e de qualidade para absorver mão de obra mais qualificada. Por esta via também será possível acomodar os aumentos de custos sem que isso reduza as margens de lucro e consequentemente restrinjam o financiamento dos investimentos das empresas. No caso do custo do trabalho, o seu valor unitário teve elevação de 2,4% no primeiro quadrimestre do ano, superando a evolução da produtividade, não tanto por uma excessiva majoração da folha de pagamentos, mas por insuficiência do ritmo com que se move esta última.

Para se ter ideia de como acumulamos um grande atraso nos últimos anos, cabe citar estudo dos economistas Rogério César de Souza e Cristina Reis, que mensura a produtividade do trabalho no Brasil e em outros países. A produtividade industrial, após ter aumentado 3,2% ao ano entre 1995 e 2002, no período 2003-2009 passa a ter variação média negativa de 1,7%. Enquanto isso, no segundo período considerado, as economias industriais da China e dos EUA, por exemplo, ostentavam ganhos como 4,5% ao ano e 3,8% ao ano, no primeiro e no segundo caso. Outras razões enfraqueceram o setor produtivo brasileiro, mas a diferença entre os perfis de produtividade entre o Brasil e outras economias compôs o quadro que hoje é causa relevante do baixo desempenho econômico do país.

Os avanços de produtividade não caem do céu, mas, sim, atendem a um complexo conjunto de fatores, tendo por denominador comum o investimento. Isso significa dizer que somente com investimentos a produtividade pode crescer. Podem ser inversões na infraestrutura, na educação, no treinamento da mão de obra ou na modernização dos ativos das empresas. Como convém assinalar, não é só o investimento empresarial o indutor dos aumentos da relação entre produção e horas trabalhadas. Tem papel de destaque o investimento público, incluindo uma de suas modalidades mais prementes no caso brasileiro: os investimentos em mobilidade urbana.

Um dos mais destacados indutores de produtividade é o investimento em tecnologia e inovações de toda ordem que as empresas podem desenvolver na sua produção, na forma de gestão, na organização de sua cadeia produtiva, no financiamento de sua clientela, nos seus processos de comercialização, no desenvolvimento de marca e marketing. São também promotores da produtividade a absorção de setores menos avançados ou informais por segmentos modernos e a velocidade com que as empresas de pequeno porte transitam para a condição de empresas formais de grande porte.

O Brasil ficou mal posicionado no tema porque investiu pouco, através da inversão pública na infraestrutura e no treinamento da mão de obra e, especialmente, porque o investimento em inovação em suas várias modalidades foi e é muito tênue entre as empresas brasileiras. No presente contexto em que as obras de infraestrutura não decolam e as expectativas empresariais estão particularmente deprimidas, o que restringe o investimento privado, não se pode esperar muito em termos de ganhos de produtividade, exceto pelo pior método possível, ou seja, aquele que está apoiado na queda simultânea da produção e do emprego. Teremos que recuperar a perspectiva de crescer e a capacidade do setor público de realizar bons investimentos para a sociedade para que, aí sim, tenhamos no horizonte o aumento da produtividade.

* – Julio Gomes de Almeida é Professor do Instituto de Economia da Unicamp e Ex-Secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda

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